Um pouco sobre Jan Gehl e o Projeto Cidade para Pessoas
As cidades escolhidas para sere visitadas pelo projeto Cidades para Pessoas tiveram como critério o trabalho de um arquiteto dinamarquês de quase 70 anos, que atua como planejador urbano há 50 e vive em Copenhagen. Quando recebeu seu diploma, no início da década de 60, o jovem Jan Gehl arranjou um emprego na prefeitura de Copenhagen e emplacou o polêmico projeto de impedir que carros circulassem por uma das principais avenidas comerciais da cidade.
A avenida teve um papel importante desde a fundação de Copenhagen e, até o início da década de 40, vivia repleta de pessoas que circulavam por ali. Acontece que, na década de 50, a lógica de mobilidade na cidade começou a mudar e os deslocamentos à pé foram dando lugar ao tráfego motorizado em automóveis particulares. O cenário que antes era repleto de pessoas circulando deu lugar ao trânsito, poluição e barulho. Gehl queria recuperar esse ambiente de convívio das pessoas nos espaços públicos da cidade. Discípulo da ativista americana Jane Jacobs, autora de “Morte e Vida nas Grandes Cidades”, ele partilhava de sua opinião sobre os carros: seu uso irracional nas cidades, gerando dezenas de quilômetros de trânsito, não era a CAUSA, mas um SINTOMA de mau planejamento urbano. Gehl sabia que impedir o trânsito de carros em uma importante avenida da cidade não resolveria, em absoluto, seus problemas. Mas acreditava que aquela experiência melhoraria a vida das pessoas que circulassem por aquela via e devolveria à cidade, ainda que pontualmente, uma das funções que ele acredita ser primordial: a convivência.
Mas a ideia de tirar os carros de lá não foi bem aceita. “Não somos a Itália”, diziam jornais no dia seguinte ao anúncio dessa proposta, tentando mostrar que o clima nórdico da Dinamarca não convidava as pessoas à rua e que, sem a circulação de carros, aquela avenida morreria. Mas não morreu. Ao contrário, ali foi criado o Strøget, um calçadão de pedestres que rapidamente virou um efervescente ponto de circulação de pessoas à pé e de bicicleta. Um ano depois, todas as lojas de comércio do local lucraram com a iniciativa e hoje Copenhagen tem o maior número usuários cotidianos de bicicleta do mundo.
Jan Gehl criou, então, seu próprio escritório, o Gehl Architects, e se tornou um consultor mundial em projetos que se propunham a “Copenhaguizar” o mundo. O Gehl Architects foi responsável pelo planejamento urbano de diversas cidades – como Melbourne, Estocolmo, Lyon e Perth. Os projetos e consultorias prestadas pelo escritório vão muito além da mobilidade urbana – tocam em questões de habitação, revitalização dos centros das cidades, segurança, espaços públicos de convivência, etc. Em vez de segregar motoristas de ciclistas e pedestres, Gehl achou por bem misturá-los em ruas de trânsito compartilhado. Em vez de construir mais vias para diminuir o trânsito – o que, segundo ele, só fazia aumentar o tráfego de automóveis – construiu mais ciclovias. Em vez de planejar novos conjuntos habitacionais, procurou revitalizar os centros das cidades.
O objetivo do projeto jornalístico Cidades para Pessoas é visitar algumas das cidades que foram planejadas ou tiveram consultoria do arquiteto Jan Gehl – ou que sejam consideradas por ele um importante exemplo de “cidades para pessoas” – para entender de perto como cada uma delas foi modificada em seu contexto, como foi esse processo de modificação, quais ideias funcionaram e quais não.
Para isso, o plano é, em primeiro lugar, fazer uma longa entrevista com o próprio Jan Gehl e com outros representantes do Gehl Architects que estejam envolvidos nos projetos das cidades que serão visitadas. Em seguida, morar durante um mês em cada cidade e, durante esse período, apurar as boas e más ideias de planejamento urbano de cada uma delas junto a autoridades de planejamento, acadêmicos do urbanismo locais e, mais importante, às pessoas que moram lá.
O urbanista Jan Gehl foi o critério utilizado para escolher as cidades que serão visitadas pelo Cidades para Pessoas, mas o trabalho de apuração irá muito além dos projetos que ele realizou em cada cidade (que, em alguns casos, foi apenas o planejamento de uma praça), para retratar os aspectos positivos e negativos de cada projeto urbanístico.
Fonte: http://cidadesparapessoas.com.br/jan-gehl/
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