Por meio da Abraciclo, entidade que representa a indústria brasileira de duas rodas, a proposta de criação de um “cluster” de bicicletas no polo industrial da Zona Franca, idealizado pela direção da companhia, já chegou ao governo
Valor, por Stella Fontes
Principal fabricante de bicicletas do país e dona da maior unidade fabril dessa indústria no Ocidente, a Caloi está em campanha para transformar Manaus em um dos principais polos mundiais de produção desse meio de transporte. A ideia é a de que ali sejam fabricadas partes e componentes, hoje importados principalmente da China, e montados produtos que abasteceriam tanto o mercado interno quanto o externo. Com escala e fornecedores locais de peças, as bicicletas brasileiras poderiam abocanhar parte do mercado ocupado pelos asiáticos, sobretudo no segmento de maior valor agregado.
Por meio da Abraciclo, entidade que representa a indústria brasileira de duas rodas, a proposta de criação de um “cluster” de bicicletas no polo industrial da Zona Franca, idealizado pela direção da companhia, já chegou ao governo. O segundo encontro do grupo de discussão, que reúne representantes da indústria, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Receita Federal, entre outras entidades e órgãos governamentais, está marcado para esta quarta-feira. O primeiro ocorreu no mês passado.
“O Brasil pode, e deve se credenciar, para atender uma parte da demanda mundial de bicicletas e componentes que virá na esteira das profundas transformações pelas quais está passando a indústria chinesa”, afirma o diretor vice-presidente da Abraciclo e presidente da Caloi, Eduardo Musa. O executivo, filho de Edson Vaz Musa, atual controlador da Caloi, refere-se ao fato de a China, que produz anualmente 80 milhões de bicicletas e exporta 70% desse volume, ter alterado suas prioridades no setor e estar se voltando aos produtos montados - e não apenas partes -, com foco no mercado doméstico.
O governo chinês, segundo Musa, está concedendo licenças de venda no mercado interno para fabricantes de peças e montadoras que eram exclusivamente exportadoras, Isso deve, ao longo do tempo, reduzir a oferta de componentes no mercado internacional.
Esse cenário, combinado ao aumento dos custos de produção em território chinês, tem levado os inúmeros fornecedores de componentes, que hoje abastecem praticamente toda a indústria global a partir da China - mais de 90% dos câmbios, por exemplo, são provenientes daquele país -, a deslocar unidades fabris para outras regiões no sudeste asiático ou no leste europeu. “Queremos atrair esses fornecedores para cá”, diz. “Especialmente, porque temos um mercado muito mais pujante do que o do Camboja ou da Romênia.”
O potencial do Brasil para sediar um novo polo, defende Musa, fica evidenciado pelos números do setor. Embora extremamente pulverizada, a indústria brasileira de bicicletas, em 2009, era a terceira maior em volume, com 4% do total mundial produzido, atrás de China e Índia. Em consumo, o país ocupava a quinta posição, superada por China, Estados Unidos, Japão e Índia. “Se ganharmos mais escala e houver produção de componentes no país, temos tudo para ser uma indústria altamente competitiva”, avalia. Para isso, a proposta encaminhada ao governo também pede a elevação das alíquotas de importação de bicicletas de 20% para 35%.
A formalização do setor, de acordo com o executivo, também joga a favor das pretensões da Abraciclo. Estima-se que pelo menos 50% da produção nacional de bicicletas, que está estabilizada na casa de 5 milhões de unidades ao ano, corresponda a negócios informais. Com a crescente fiscalização e a obrigatoriedade da nota fiscal eletrônica, entre outras medidas, a expectativa é que se acelere o ritmo de migração das empresas para o mercado formal. “Esse movimento torna Manaus ainda mais interessante como sede do polo, em razão dos benefícios concedidos a quem se instala por ali.”
A escolha da capital amazonense, explica, leva em conta os benefícios oferecidos às empresas que se instalam no Polo Industrial de Manaus (PIM), parte fundamental da Zona Franca. Para as fabricantes de bicicletas há isenção de 10% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e de uma parte do Imposto de Importação e de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Comparado com São Paulo, a diferença fiscal chega a 40%. Musa diz que o projeto de cluster tem o apoio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Nenhum porta-voz da entidade estava disponível na sexta-feira para comentar o assunto.
Historicamente, a produção de bicicletas em Manaus girava em torno de 1 milhão de unidades por ano. Com a desativação de unidades da Monark e da Sundown, o volume produzido recuou para 500 mil a 600 mil unidades anuais. Hoje, a Caloi faz cerca de 620 mil bicicletas ao ano em sua fábrica no PIM. Em 2020, caso a proposta do cluster saia do papel, a expectativa é de que a produção no polo amazonense alcance 5 milhões.
A segunda maior fabricante de bicicletas do país, a piauiense Houston, já anunciou investimentos de R$ 40 milhões em sua segunda fábrica, que será em Manaus, cuja inauguração está prevista para o segundo semestre de 2012. No ano passado, na unidade de Teresina, produziu 750 mil unidades e espera alcançar 900 mil bicicletas neste ano. Um porta-voz da Houston não foi localizado para comentar a proposta de criação do polo fabril do setor.
Além da Houston, a OX Bikes - associada à Abraciclo, assim como Caloi e Prince Bikes - inaugurou fábrica em Manaus este ano e a Levorin, fornecedora de pneus, planeja também iniciar produção local em 2011 para atender tanto motocicletas quanto bicicletas. “Já há um movimento de fortalecimento em Manaus. Com o Plano de Desenvolvimento de Produção, isso ganha força”, diz Musa.
Fonte: http://www.agenciat1.com.br
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