Rachel Duarte
Ainda neste semestre, os novos motoristas que se habilitarem junto ao Detran –RS serão orientados sobre regras de trânsito que visam uma convivência harmoniosa com os ciclistas. Um meio de transporte cada vez presente no dia a dia das grandes cidades, a bicicleta reconhecida pelo Código Nacional de Trânsito e tem regras específicas para serem seguidas por quem pedala e, principalmente pelos veículos de maior porte. O que na prática, acaba não sendo cumprido. Segundo o dados do Detran-RS, nos últimos quatro anos foram registrados 740 acidentes com vítimas fatais envolvendo ciclistas. A esperança do governo gaúcho e dos ativistas de bike é reduzir estes índices com uma mudança cultural dos futuros motoristas.
Em reunião nesta terça-feira (15), técnicos da Divisão de Habilitação do Detran/RS apresentaram aos integrantes de entidades de ciclistas o esboço do possível material pedagógico a ser utilizado nas Centros de Formação de Condutores (CFCs). Ainda nesta semana, os ciclistas deverão opinar sobre o conteúdo e fazer sugestões. “Estamos levando a proposta para os interessados. Fomos apenas interlocutores dos ciclistas na reunião. Demos algumas sugestões, mas o coletivo que anda nas ruas tem que opinar”, salientou o vereador Marcelo Sgarbossa.
Sgarbossa esteve na reunião representando o Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (Lappus), uma das entidades que começou a construção de ações para mudança cultura do trânsito no estado junto ao Detran-RS. “A partir de agora a bicicleta estará entre as noções do trânsito ensinadas nas aulas de formação de condutores em todo o estado como conteúdo obrigatório. Creio que a mudança cultural se dá também na informação. Existem pessoas que mesmo conhecendo as regras não as cumprem, mas muitos as desconhecem”, fala.
Entre as primeiras sugestões apresentadas ao Detran-RS pelos ciclistas estão a inclusão da normativa sobre a distância de segurança entre os veículos (não somente a lateral, já bastante divulgada), considerando o tempo de resposta dos freios da bicicleta — imediato — e o dos veículos automotores. Também foi alertado para um dos principais riscos e causa de morte de ciclistas no mundo, o chamado ‘laço da morte’. “É quando o motorista ultrapassa o ciclista para fazer uma conversão e não vê o ciclista ou não cuida em ver. O ciclista está em movimento e vem na borda das pistas, fica totalmente indefeso. O motorista tem que ter calma e atenção no trânsito, sem ser movido pela pressa”, alerta o representante do coletivo Mobicidade, José Antonio Martinez que esteve na reunião.
Instrutores também serão orientados sobre as normas para ciclistas no trânsito
A intenção é transformar as orientações para conscientização do trânsito como espaço coletivo de veículos motorizados e bicicletas em materiais gráficos e utilizar vídeos nas aulas dos 273 Centros de Formação de Condutores do Estado. Para isso, a pedagoga da Divisão de Habilitação do Detran-RS, Rosangela Vieria explica que os cursos de formação de instrutores também serão adequados. “Vamos trabalhar com instituições de ensino superior conveniadas que promovem os cursos que profissionalizam os instrutores”, conta.
Para o vereador Marcelo Sgarbossa, a melhor preparação para os futuros educadores seria vivenciar o cotidiano do ciclista. “Sensibilização sempre é melhor. Se eles pudessem sair com a bicicleta e sentir a relação do trânsito na prática era uma boa forma de compreenderem o conteúdo que vão ensinar. Mas, isto ainda é uma ideia”, salienta.
No RS são 6.406 mil instrutores (teóricos e práticos) e apenas em 2012 foram emitidas 166.078 mil novas carteiras de habilitação. O alcance da nova formação que pretende abordar o ponto de vista do ciclista será um grande passo na mudança cultural sobre o convívio pacífico no trânsito, estima Joaquim Martinez. “Eu pedalo há pelo menos 55 anos. É a primeira vez que vejo uma política que influenciará na formação. Existe uma agressividade para com os ciclistas nas ruas por parte dos outros sujeitos do trânsito como se o lugar das bicicletas não fosse a rua”, constata.
Apesar de não haver registro da frota de bicicleta no RS, segundo dados do Ministério das Cidades, 45 milhões de brasileiros possuem bicicleta. Os dados são computados pela compra das bikes, o que, para Martinez, confirma a estimativa de que 20% das pessoas que utilizam carro deixariam de usar caso houvesse segurança para o ciclista no trânsito. “O maior veículo deve cuidar do menor, está no Código de Trânsito. Mas esta mudança leva tempo”, afirma o ciclista.
O trabalho articulado entre estado e sociedade civil é imprescindível nesta mudança, ressalta a pedagoga do Detran. “A humanização da cidade passa pelo trânsito. A bicicleta tem se mostrado um transporte presente nas cidades. E tem cuidados que muitos não identificam como importante e que podem salvar vidas, como atenção ao abrir a porta de um veículo estacionado, manter distancia frontal e lateral das bicicletas e cuidados nas conversões”, fala Rosângela.
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