O que é uma cidade biofílica?

High Line, Nova York - Via landarchs.com

O termo “biofilia” é utilizado pela Universidade de Harvard para definir o grau em que os seres humanos estão conectados com a natureza e com outras formas de vida.

Timothy Beatley, autor do livro “BiophilicCities: IntegratingNatureintoUrban Design and Planning”, aplica o termo biofilia às cidades que apresentam um desenho urbano que permite aos habitantes desenvolverem atividades e um estilo de vida que os deixa aprender com a natureza e comprometer-se com seu cuidado. Além disso, as instituições locais das cidades biofílicas destinam parte do orçamento dos seus governos para cumprir este compromisso.

Para Beatley, o projeto biofílico tem aumentado nos últimos anos, particularmente nos edifícios que buscam integrar características naturais, como luz, ventilação e vegetação; no entanto, a grande maioria dos centros urbanos não tem canalizado seus esforços para desenvolver esta tendência.

Na continuação poderá conhecer sete características das cidades biofílicas.

High Line, Nova York © David Berkowitz; via Flickr

1. Natureza abundante nas proximidades das cidades com grande número de habitantes. 

Para alcançar esta característica, as cidades biofílicas possuem programas públicos de infraestrutura de áreas verdes que lhes permitem destinar uma porcentagem de seu orçamento para financiar estes projetos. Levando isso em conta, Nova York se qualifica como uma cidade biofílica, já que conta com o programa PlaNYC, que pretende que em 2030 cada habitante da cidade tenha um espaço público verde a 10 minutos de caminhada. Seattle também se classifica como uma cidade biofílica, porque tem o plano Seattle P-Patch, que visa construir um jardim urbano comunitário para cada 2.500 habitantes.

Wellington, Nova Zelândia – Via landarchs.com

2. Afinidade entre cidadãos, flora e fauna nativa

Bentley considera o clima, a flora e a fauna como características que definem o lar urbano. Por isso, considera fundamental que as autoridades municipais eduquem, estimulem e incentivem os habitantes a conhecer as espécies locais e nativas da flora e fauna, para que as comunidades valorizem seus benefícios ambientais e procurem preservá-los.

Em Wellington, Nova Zelândia, esta prática já é uma realidade graças ao trabalho de mais de sessenta grupos comunitários e voluntários de conservação que nos últimos anos tem realizado 28.000 horas de serviço em 4.000 hectares de reservas naturais. No caso de Oslo, Noruega, mais de 81% dos habitantes visitou em 2012 os bosques que rodeiam a cidade, o que demonstra o valor que os residentes dão pela paisagem natural.

Canopy Walk, Singapura – Via landarchs.com

3. Oportunidades para estar ao ar livre e desfrutar da natureza

A urbanização leva à falta de áreas verdes e à valorização dos terrenos baldios como um verdadeiro prêmio. Para não criar a sensação de que faltam espaços verdes, pode-se conectar os parques urbanos existentes através de caminhos que facilitem o acesso a essas áreas por parte dos moradores. Assim, as cidades biofílicas oferecem várias opções para se estar ao ar livre e realizar caminhadas.

Singapura já conectou seus parques, integrando 200 quilômetros de caminhos por meio de passarelas elevadas que permitem que habitantes de diferentes pontos da cidade entrem nos parques. Entretanto, Anchorage, Alaska, tem 1,6 km de caminhos naturais a cada 1000 habitantes. Estes são multiusos e dão a possibilidade de serem utilizados durante todo o ano, tanto para realizar passeios como para esquiar.

Oslo, Noruega – Via landarchs.com

4. Ambientes multissensoriais

A integração de espaços naturais e corredores ecológicos na trama urbana podem ajudar a criar as condições necessárias para novos espaços multissensoriais, onde os sons naturais são tão apreciados como a experiência visual de percorrer um parque. Um exemplo de espaços multissensoriais é um projeto norueguês que busca iluminar oito rios de Oslo. Isto será parte de Akersleva, um corredor que permitiria aos cidadãos do centro da cidade se transportar até os parques próximos passando por caminhos com 14 áreas de silêncio.

Via limerickbiodiversity.weebly.com
5. As cidades biofílicas concedem um papel importante à educação no campo da natureza

A educação sobre a natureza pode promover a adoção de uma vida sustentável por parte da população. As cidades biofílicas dão importância à educação em campo, porque dá a possibilidade de unir-se com outras pessoas para conectar-se com a natureza, podendo ser através de caminhadas guiadas, acampamentos ou voluntariado para recuperar áreas naturais.

Em Limerick, Irlanda, vários grupos ambientalistas estão trabalhando com o município para educar a população sobre a biodiversidade e as espécies selvagens nativas. Urban Tree Project e Limerick City Biodiversity Network são dois novos grupos que tem envolvido a população local com a natureza, oferecendo visitas guiadas, conferências e recursos online para aprender sobre a importância da biodiversidade.

Portland, Estados Unidos – Via landarchs.com

6. Investimento em infraestrutura social que ajude a população urbana à compreender a natureza

O investimento nesta área é um excelente indicador de uma cidade biofílica. De acordo com Beatley, as cidades deste tipo investem em torno de 5% do seu orçamento dedicado à biodiversidade e pelo menos colocam em funcionamento um projeto biofílico por ano. Com isso, podem-se construir centros de vida silvestre e museus de história natural, financiar iniciativas escolares e programas de recreação, entre outros.

Em Portland, Oregon, essa porcentagem do orçamento se superou notavelmente e tem-se feito investimentos em infraestrutura social e “verde”, já que contam com os parques urbanos com maior superfície per capita dos Estados Unidos. Entretanto, N’Parks de Singapura tem um programa de incentivos chamado Skyrise Verde, que financia até 75% dos projetos para jardins urbanos em telhados e paredes verdes.

Parque Olarizu, Vitoria-Gasteiz – Via landarchs.com

7. As cidades biofílicas tomam medidas para apoiar ativamente a conservação da natureza

As cidades devem ter em conta a sua pegada ecológica e os impactos negativos sobre o ambiente que gera a população e as atividades desenvolvidas pela mesma. Para conseguir isso, as cidades – que podem ser chamadas de biofílicas – focam no desenvolvimento compacto e na designação de áreas protegidas através da criação de planos de ação para proteger a biodiversidade do lugar.

Em Nagoya, Japão, 10% do solo está localizado ao lado dos limites urbanos, de modo que fique em um estado não gerenciado e possa ser protegida como reserva natural. Enquanto isso, Phoenix, EUA, comprou 17.000 hectares de deserto a fim de evitar os efeitos negativos da expansão urbana da cidade e designar esta área como um lugar para a conservação da natureza.

Também o caso de Vitória – Gasteiz, no País Basco, cidade que está cercada por um cinturão verde para limitar o desenvolvimento da cidade e proteger o pantanal Salburua. Como este plano tem dado bons resultados, está sendo estudada a possibilidade da criação de um anel verde interno para levar as áreas verdes para dentro da cidade.

Para Beatley, os indicadores que se concentram na introdução e proteção de áreas verdes naturais ao interior das cidades, incentivam a interação dos habitantes com a educação ambiental e restauração dos habitats das cidades. Considerando que mais da metade da população mundial vive em centros urbanos onde há uma carência de natureza, a biofilia tornou-se a melhor opção para as cidades.

Texto por Constanza Martínez Gaete via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.


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