Brasil, Índia e China são responsáveis por 40% das mortes globais em decorrência de acidentes. Das três economias emergentes, Brasil é a que mais avançou em termos legais, embora a aplicação ainda seja deficiente.
Para saber onde condutores, passageiros e pedestres correm mais risco, basta olhar os seguintes pontos no mapa-múndi: as grandes cidades, os países emergentes e a África. Esses são os novos focos dos principais especialistas em segurança viária no mundo, preocupados em diminuir o número de mortes, 1,25 milhão ao ano, e pessoas feridas, entre 30 e 50 milhões.
“São tragédias perfeitamente evitáveis”, alertou a diretora global da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan durante a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, que aconteceu em Brasília entre os dias 18 e 20 de novembro. “A epidemia de acidentes de trânsito foi criada pela humanidade, e só ela pode resolvê-la”, defendeu uma das netas de Nelson Mandela, Zoleka, que tornou-se embaixadora para a causa após perder uma filha em 2010.
Nada menos do que 90% dos desastres ocorrem em países em desenvolvimento, como os da América Latina e Caribe. Então, para o mundo cumprir a meta global da ONU de reduzir pela metade as mortes até 2020, é de fato necessário dar mais atenção às regiões que mais lutam contra a extrema pobreza.
O ponto de partida está nas grandes cidades porque, em primeiro lugar, elas já respondem por metade das mortes em acidentes viários. Além disso, em 2050, haverá mais 2,5 bilhões de pessoas vivendo nos centros urbanos de todo o mundo. E na América Latina, que já conta com 80% de população urbana, terá 90% no mesmo ano.
A solução passa não só por melhorar os controles de velocidade, tráfego ou álcool e direção. Também é preciso pensar em planejamento urbano de forma a minimizar a necessidade de transporte individual.
“Investir mais em ônibus, trens, etc. por si só vai reduzir os acidentes tremendamente porque esses meios de transporte são muito mais seguros. Também é preciso planejar calçadas adequadas e locais de trabalho que não sejam muito distantes das zonas residenciais, por exemplo”, explica o diretor de transportes e tecnologia da informação do Banco Mundial, Pierre Guislain.
Acidentes custam caro
Se as grandes cidades de todo o mundo exigem atenção máxima no trânsito, dá para imaginar como é a vida no Brasil, na China e na Índia, que respondem por 40% das mortes globais de acidentes devido ao tamanho da população e à taxa de motorização.
Também vai contra os três países emergentes o fato de que nenhum deles tem legislação considerada ideal com relação a limites de velocidade, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Em compensação, o Brasil se destaca pelas leis sobre consumo de álcool e sobre uso de capacetes, cinto de segurança e cadeirinhas para crianças. Das três economias emergentes, é a que mais avançou em termos legais, embora a aplicação ainda seja deficiente, num consenso dos participantes da conferência em Brasília. Faltam dados de qualidade, fiscalização e coordenação entre os muitos programas federais e estaduais de segurança viária.
Um experimento numa nova direção está sendo feito em São Paulo, que criou um comitê para enfrentar o problema de forma coordenada, e onde o Banco financiou a análise de 4 mil quilômetros de estradas. Uma nova avaliação será feita em breve em 20.000km de rodovias do estado.
Situação bem mais difícil vivem as economias mais pobres do mundo, que reúnem só 1% da frota global, mas concentram 16% dos acidentes. Muitos deles estão na África, a única região em que os acidentes de trânsito e as mortes aumentaram desde 2010. O índice de fatalidades no continente é de 27/1,000 pessoas, maior que a média global de 18/1,000.
Entre as poucas histórias de sucesso está a da Nigéria, o país mais populoso da região. Uma iniciativa reunindo o Banco Mundial, o Reino Unido, a Bloomberg Philantropies e a Fundação FIA permitiu ao país melhorar a infraestrutura rodoviária, a fiscalização de rodovias e a capacidade de gerenciamento das rodovias federais. Como resultado, o número de mortes nas pistas atendidas pelo projeto baixou 11%.
À medida que se 2020 aproxima, histórias como as do Brasil e da Nigéria só reforçam a necessidade de intensificar o apoio técnico e financeiro aos lugares que mais necessitam. Até porque está provado que é mais caro arcar com as consequências econômicas de acidentes, ferimentos e mortes: eles consomem até 6% do PIB dos países em desenvolvimento.
“Os prejuízos podem até anular os benefícios do crescimento econômico nesses países”, disse Margaret Chan, da OMS.
Fonte: Nações Unidas no Brasil
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