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A ideia de construir ciclovias em estradas já foi testada nos Estados Unidos há mais de 100 anos pelo prefeito de Pasadena Horace Dobbins. Uma ciclovia que ligava Los Angeles a Pasadena – feita de madeira – foi inaugurada em 1900, mas em pouco tempo foi desativada devido ao baixo número de ciclistas. “Cheguei à conclusão de que estamos um pouco à frente do tempo com essa ciclovia”, declarou Dobbins na época.
“Nossa população está crescendo rapidamente, o que significa que o tráfego irá crescer e o transporte coletivo estará sob pressão. Nós precisamos pensar em soluções inteligentes para esses problemas”,argumenta Birgit Kastrup, da Associação de Planejamento da Grande Munique. “Acreditamos que estradas para bicicletas são a solução para o trânsito e para problemas ambientais.”
No Brasil, infelizmente, as poucas estruturas para bicicletas em estradas que conectam cidades não garantem segurança aos ciclistas. “Ciclovias em rodovias precisam ser bem planejadas devido à alta velocidade dos veículos que circulam nesses espaços. Precisa haver uma segregação física que realmente divida o fluxo das bicicletas e dos veículos”, explicaPaula Rocha, Coordenadora de Mobilidade Urbana e Acessibilidade do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
A ciclovia alemã é totalmente segregada dos veículos que trafegam na rodovia, tem túneis que evitam cruzamentos, é equipada com viadutos, é totalmente iluminada e terá manutenção constante no inverno devido ao acúmulo de neve. “São 1,6 milhão de pessoas morando a 2 quilômetros da rota da ciclovia; temos 150 mil estudantes e 430 mil empregos. Não estou nem um pouco preocupado com a demanda para isso”, afirma o planejador Martin Tönnes, que coordena o projeto. “A ciclovia na estrada irá convencer muitas pessoas a começar a se locomover por bicicleta”, diz. Segundo ele, as bicicletas elétricas podem fazer essa escolha mais fácil e rápida.
“Ciclovias são muito importantes em regiões conurbadas, onde estradas cortam os municípios. No Brasil é muito comum cidades se desenvolverem ao redor das rodovias, que têm velocidades são altíssimas. A rodovia acaba se tornando uma rota para os ciclistas, até mesmo para ir ao mercado, por exemplo”, lembra Paula. “Deve-se encontrar uma maneira de conectar a cidade quando há uma ciclovia no meio”. Um bom exemplo brasileiro de ciclovia segragada é o da BR-101, no trecho do município de Laguna, em Santa Catarina. Com as obras de duplicação da via, ciclistas e pedestres também ganharam espaços dedicados à eles.
A Holanda começou a construir suas ciclovias em autoestradas em 2006 para combater os congestionamentos. Atualmente, o país trabalha em 30 novos projetos, incluindo uma ciclovia de mais de 28 quilômetros de extensão que irá conectar as cidades de Assen e Groningen, no norte. Uma rotatória suspensa desenhada especialmente para os ciclistas foi construída na cidade de Eindhoven. A Hovenring paira sobre uma intersecção em que cerca de 25 mil veículos passam por dia. “Projetos como esse evidenciam que o país está realmente priorizando o ciclista. Eles não fizeram um viaduto para carros, fizeram para bicicletas”, salienta Paula.
Já a Noruega anunciou neste ano que construirá dez amplas rotas de bicicleta perto das nove maiores cidades do país. A medida faz parte dos esforços de reduzir à metade as emissões decorrentes do trânsito norueguês. As autoridades, no entanto, explicam que as ciclovias não serão ligações de centenas de quilômetros – pelo menos não inicialmente. Elas irão criar ligações entre o centro das cidades e os bairros periféricos, estendendo a malha cicloviária de dentro para fora das cidades.
Paris recém inaugurou sua primeira estrada para bicicleta. O trecho de pouco menos de um quilômetro é parte da Rede Expressa de Bicicleta (Réseau express vélo , “REVe”, que significa “sonho” em francês), iniciativa que pretende implantar uma rede de 45 quilômetros que cruzará a cidade até 2020. “Espero que usar a bicicleta passe a ser considerado um meio alternativo viável para se locomover pela cidade, e não apenas um projeto liderado por partidos verdes dos modernos parisienses”, exalta Charles Maguin, presidente e co-fundador do Paris en Selle, uma associação de ciclistas.
Com o REVe, Paris espera que as viagens diárias aumentem de 5% para 15% até 2020. A iniciativa irá dobrar o número de ciclovias de 700 para 1400 quilômetros. Além disso, serão implantados 7 mil espaços avançados nos semáforos, com prioridade para as bicicletas em cada cruzamento, para que os ciclistas não sejam tão restringidos pelo tráfego de automóveis.
O chamado East-West Cycle Superhighway é o ambicioso projeto desenvolvido em Londres que pretende construir mais de 28 quilômetros de uma ciclovia segregada. “Bicicletas já compensam 24% do tráfego nas horas de rush na área central de Londres – de outra forma milhares de jornadas seriam feitas todos os dias por carro ou transporte público”, afirmou o prefeito Boris Johnson. Ainda falta muito para sair do papel, mas a capital dos ingleses tem ainda o projeto SkyCycle, desenhado pelo famoso arquiteto Norman Foster, que propõe uma rede de 220 quilômetros de ciclovias elevadas içadas acima de linhas ferroviárias e uma ciclovia “flutuante” que seria ancorada ao longo do leito do rio Tâmisa.
Mais do que louváveis iniciativas que visam conectar cidades, o projeto EuroVelo pretende construir até 2020 uma ciclovia que ligará 43 países. O projeto é gerenciado pela Federação Europeia de Ciclistas (ECF), e deve ter 70 mil quilômetros de extensão através de 14 grandes rotas. Os percursos irão conectar até mesmo o Oceano Atlântico ao Mar Negro e o Ártico ao Mar Mediterrâneo. Já foram construídos mais de 45 mil quilômetros até agora. De acordo com o projeto, os 70 mil quilômetros serão compostos de 14% ciclovias, 8% de estrada asfaltada sem tráfego, 6% de estrada não asfaltada e sem tráfego, 56% de estradas públicas asfaltadas e com baixo tráfego, 3% de estradas públicas não asfaltadas e 14% de estradas públicas asfaltadas com tráfego.
Fonte: thecityfixbrasil
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